Aconteceu em 22 de agosto de 2003 • 15h35 • atualizado em 25 de agosto de 2003 às 11h28
![]() O terceiro protótipo do Veículo Lançador de Satélites (VLS) que seria lançado
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O terceiro protótipo do Veículo Lançador de Satélites (VLS) que seria lançado na próxima segunda-feira do Centro de Lançamento de Alcântara (Cla), no Maranhão, explodiu hoje na rampa de lançamento e matou 21 pessoas. Os nomes das vítimas já chegaram a Brasília e devem ser divulgados no começo da tarde de sábado. Os trabalhos de resgate dos corpos foram retomados na manhã. A investigação sobre o acidente já foi iniciada e uma das causas pode ser a explosão das células de combustível sólido dos foguetes propulsores. O material, à base de perclorato de amônia, é altamente instável. O governo do Maranhão decretou luto oficial de 3 dias.Durante a noite de ontem, o Instituto Médico Legal (IML) recebeu dois corpos, ainda não identificados, para autópsia. Conforme os peritos que estiveram no local da explosão, há vários corpos nos destroços da plataforma.
O coordenador da comunicação da operação São Luís, major Gustavo Krüger, disse que vários corpos continuam desaparecidos. No momento da explosão cerca de 200 pessoas trabalhavam no projeto, entre técnicos e militares. Ele informou que hoje a Aeronáutica vai divulgar a lista com os nomes das pessoas que estavam na Base na hora do acidente. O presidente da Agência Aeroespacial Brasileira, Luiz Bevilacqua, também itiu que o número de mortos deve ser mesmo de 21 pessoas. A informação do presidente da Agência Aeroespacial foi dada em entrevista à TV Cultura.
Todos os mortos eram técnicos civis do Centro de Tecnologia da Aeronáutica.
De acordo com o ministro, o desastre foi causado por um defeito na ignição de um dos quatro motores do corpo principal do foguete, o que levou à explosão na plataforma de lançamento. Já o major Gustavo Krüguer, da Coordenação de Comunição da Base Aérea de Alcântara, disse hoje, durante entrevista coletiva no aeroporto de São Luís, que a causa da explosão do Veículo Lançador de Satélites (VLS1) teria sido um incêndio.
Viegas disse que ainda não se sabe o nome, nem o número preciso de mortos no desastre, mas, segundo ele, dificilmente sobreviveriam os técnicos que estavam na plataforma de lançamento na hora da explosão.
No total, cerca de 700 pessoas trabalhavam na operação de lançamento do VLS-1, que deveria ocorrer na próxima semana. Não houve registro de danos causados a pessoas ou instalações fora da área do Centro de Lançamento.
De acordo com o Comando da Aeronáutica, o acidente aconteceu às 13h30. O Ministério da Aeronáutica já deu início à investigação para apurar a causa da explosão do protótipo. As equipes de segurança estão levantando os dados para avaliar a situação. Em nota oficial, o ministério afirma que “até o momento não existem, ainda, elementos suficientes para afirmar possíveis causas do acidente”.
O presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Luiz Beviláqcua, foi surpreendido hoje à tarde pela notícia da explosão em solo do terceiro protótipo do Veículo Lançador de Satélites. Questionado sobre a explosão durante entrevista coletiva para falar sobre o acordo espacial Brasil-Ucrânia, Beviláqcua inicialmente desdenhou a informação confirmada minutos depois por um assessor. “Só se foi um foguete de São João”, disse antes de obter a confirmação do acidente.
O Comando da Aeronáutica divulgou nota oficial confirmando a ocorrência do acidente por volta das 13h30 e informando que não há registro de vítimas ou danos a instalações fora da área do centro de lançamentos.
Primeiro país da América Latina a lançar foguete
Com o lançamento, o Brasil se tornaria o primeiro país da América Latina a enviar um foguete de fabricação própria para o espaço a partir de uma base construída perto da linha do Equador e planejada décadas atrás, durante o regime militar. A base de lançamento de Alcântara, no Maranhão, e seus cerca de 800 cientistas e militares corriam contra o relógio para concluir a montagem do foguete de 20 metros de altura.
“Até o dia 25 (de agosto), estaremos prontos para dar início à seqüência de lançamento”, disse o major-brigadeiro Tiago da Silva Ribeiro, coordenador geral do projeto, antes da explosão.
O governo militar planejou, originalmente, levar o país à corrida espacial nos anos 1970. O primeiro o foi a desapropriação de um terreno de 62 mil hectares nas proximidades da cidade de Alcântara, onde foram construídas as instalações de lançamento.
Até agora, no entanto, os cientistas e militares brasileiros não conseguiram realizar seu sonho, quase 25 anos e centenas de milhões de dólares depois. Em 1997 e em 1999, os foguetes lançados se destruíram pouco depois da decolagem devido a problemas técnicos.
Desta vez, porém, na base de Alcântara, havia uma determinação renovada para garantir o sucesso da empreitada. Ribeiro, que trabalha vestido com uniforme militar e dirigiu as tentativas de lançamento de 1997 e 1999, se dizia confiante no fato de os problemas anteriores terem sido resolvidos. O major-brigadeiro não convidaria repórteres para acompanhar o lançamento.
Veículo de lançamento de satélite
Os funcionários do laboratório de Alcântara deram início à montagem do foguete (Veículo de Lançamento de Satélite, VLS) de US$ 6,5 milhões no dia 1º de julho, quando começaram a chegar os componentes enviados de São Paulo.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) montou dois pequenos satélites, que carregam equipamentos de posicionamento, um transmissor para comunicações e uma bateria.
Os satélites, guardados juntos em um compartimento, seriam lançados em uma órbita baixa da Terra (cerca de 750 quilômetros acima da superfície), menos de oito minutos depois do lançamento e quando o último estágio do foguete fosse descartado.
O sucesso do lançamento significaria uma grande vitória para o Brasil. Conforme autoridades, a base de Alcântara tem potencial para se tornar um dos maiores centros de lançamento de satélite do mundo.
A base é a mais próxima da linha do Equador já construída, o que permite aos foguetes levar menos combustível e cargas mais pesadas, já que se aproveitam das forças centrífugas do planeta. Em julho, o governo brasileiro assinou um acordo com a Ucrânia, prevendo que Alcântara será a base de lançamento dos foguetes Cyclone.
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