Shoppings de SP fecham as portas para evitar ‘rolezão’ de sem-teto

Grupo se concentrou em estações de trem e saiu em caminhada. 
Campo Limpo e Jardim Sul fecharam mais cedo nesta quinta-feira (16).

Lívia Machado e Marcelo Mora Do G1 São Paulo

Sem-teto distribuem pão com mortadela no shopping Jardim Sul (Foto: Lívia Machado/G1)

Sem-teto distribuem pão com mortadela em frente ao Shopping Campo Limpo (Foto: Lívia Machado/G1)

Dois shoppings na Zona Sul de São Paulo fecharam as portas na tarde desta quinta-feira (16) antes do “rolezão popular”, como foi chamado um protesto convocado por movimentos sociais.

O Shopping Campo Limpo conseguiu uma liminar na Justiça e fechou as portas. Na mesma região, o Jardim Sul também impediu a entrada dos manifestantes. Até 18h20, não havia confirmação se o centro comercial também obteve liminar na Justiça.

Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) se concentraram em duas  estações da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (TM) e seguiram em caminhada até os estabelecimentos.

O MTST afirma que protesta contra liminares concedidas pela Justiça de São Paulo que impediram no fim de semana a realização dos chamados “rolezinhos”. Os eventos são encontros de jovens e adolescentes marcados, através das redes sociais, para espaços como parques e shoppings.

Integrantes do MTST se reúnem em estação Campo Limpo da TM (Foto: Marcelo Mora/G1)
Integrantes do MTST se reúnem na estação Campo
Limpo da TM (Foto: Marcelo Mora/G1)

A decisão da Justiça obtida nesta quinta pelo Shopping Campo Limpo aponta que quem descumprir a decisão poderá receber multa de R$ 5 mil. Em sua decisão, o juiz Alexandre David Malfatti, da 7ª Vara Cível, afirma que o centro comercial não tem condições de abrigar o encontro.

“Não se trata de inferir que os manifestantes sejam marginais ou que queiram, premeditadamente, causar dano pessoal ou patrimonial”, afirma o magistrado. “Trata-se da reação normal de pânico e desordem que se espera quando milhares de pessoas chegam a um local fechado, com corredores estreitos e poucas saídas para todos.”

Os sem-teto saíram em caminhada de duas estações da TM até os dois shoppings. No trajeto, os integrantes do MTST fecharam vias importantes, como a Estrada de Itapecerica, onde fica uma das entradas do Shopping Campo Limpo.

Entenda os rolezinhos - cronologia e proibição 2 (Foto: Arte/G1)

Um lojista que preferiu não se identificar relatou ao G1 que o Shopping Campo Limpo fechou por volta das 17h, mas que o clima era tranquilo. Apenas os clientes que já estavam dentro do estabelecimento puderam permanecer. A assessoria do shopping confirmou por volta das 17h30 que as portas foram fechadas.

Jardim Sul
Além do Campo Limpo, o Shopping Jardim Sul também seria um dos destinos do “rolezão”.  Em nota, o Jardim Sul diz que “foi necessário interromper as atividades do centro de compras antecipadamente. A medida adotada pelo empreendimento fez parte do plano de ações para garantir a integridade e segurança de seus clientes, lojistas e colaboradores.”

Apoio
A concentração do MTST para seguir até o Jardim Sul aconteceu na estação Giovanni Gronchi da TM. “Vamos em apoio a esses jovens da periferia que não têm o a nada”, defende Ana Paula Ribeiro, da coordenação do MTST.

A coordenação descarta estender a manifestação para outro local, na impossibilidade de realizar o protesto dentro do centro comercial.

Ana Paula defende o caráter social do ato. Para ela, os jovens não estão apenas em busca de paquera e badalação. “A gente não identifica como tão superficial assim. Para a gente é um caráter social”, disse.

Segundo a coordenação do MTST, o “Rolezão Popular” é “contra a discriminação social e racial imposta pelo Judiciário e por shoppings”, afirmou, em nota. “O objetivo é denunciar o apartheid imposto contra os moradores de periferia, impedindo-os de circular nos shoppings.”

Guilherme Boulos, um dos coordenadores do MTST, diz que a ação da Justiça segrega a sociedade e provoca um apartheid. “Nós lutamos contra a segregação contra o povo da periferia. A forma como a Justiça vem tratando isso é totalmente discriminatória, barra quem é negro, quem tem cara de pobre”, afirmou. “A sociedade lamentou há um mês a morte de Nelson Mandela [líder negro] e ao mesmo tempo está comandando um apartheid social”, acrescentou.

Para Jussara Basso, integrante do MTST, a liminar que impede a entrada e circulação de shoppings em São Paulo é revoltante. “Nós somos uma bandeira social com um todo. O movimento racial e social contra negros e pobres é revoltante”, justifica.

Shoppings
A Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop) afirmou na segunda-feira (13) que shoppings escolhidos por jovens como pontos de novos de “rolezinhos” entrarão na Justiça para impedir os eventos. “Vamos ter mandados de segurança e os shopping vão fazer um esquema de segurança”, disse o presidente da associação, Nabil Sahyoun.

Para ele, os “rolezinhos” não podem acontecer dentro dos centros comerciais porque põem em risco e importunam clientes e comerciantes. Ele pede que a Prefeitura de São Paulo ofereça espaços, como o Sambódromo do Anhembi. “A Prefeitura tem que arrumar um espaço para que o pessoal pare de ficar importunando a vida de consumidor que quer comprar com tranquilidade e para o comerciante poder trabalhar. Toda a sociedade está contra esse tipo de encontro”, afirmou.

O prefeito Fernando Haddad (PT) afirmou nesta segunda-feira (13) que os shoppings não devem empurrar o problema para a Prefeitura e que é preciso discutir a cidade. “Não adianta ficar [dizendo]: cuida dessas pessoas que o problema é seu. É a cidade que precisa ser discutida e nós precisamos evoluir no sentido de abrir espaços públicos para que as pessoas possam usufruir mais da cidade”, disse Haddad.

O prefeito afirmou que sua istração está em contato permanente com a juventude e que designou duas secretarias para acompanharem os “rolezinhos” e as decisões judiciais relacionadas a eles. O prefeito disse que pediu para a Secretaria de Serviços colocar iluminação nos Centros Desportivos Comuns para que se tornem áreas para possíveis encontros dos adolescentes.

O Shopping Campo Limpo, na Zona Sul de São Paulo, fechou as portas na tarde desta quinta-feira (16) antes do "rolezão popular", como foi chamado o protesto programado por movimentos sociais. (Foto: Marcelo Mora/G1)

O Shopping Campo Limpo, na Zona Sul de São Paulo, fechou as portas na tarde desta quinta-feira (16) antes do “rolezão popular”, como foi chamado o protesto programado por movimentos sociais (Foto: Marcelo Mora/G1)

Protesto em frente so Shopping Jardim Sul (Foto: Lívia Machado/G1)Protesto em frente ao Shopping Jardim Sul (Foto: Lívia Machado/G1)

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