De repente a morte, derradeira constatação para a qual pensamos não estar preparados. É assim: um rompimento instantâneo que nos leva um sorriso, uma lágrima, um abraço, um voz. A morte leva-nos, até mesmo, o perfume, a imagem em movimento, deixando-nos o desenho que se move apenas na memória que costumamos e gostamos de recordar, sozinhos, olhando o longínquo horizonte ou na companhia dos amigos e parentes que restaram e ficaram por momentos. Essa derradeira constatação de rompimento provocado pela morte, ausência de um corpo em animação diante dos nossos olhos e que pode nos tocar e nos fazer suspirar, é o instante sublime de transformação do ser no o outro ser (não pode “ser” de outra “forma” dada a constância do “existir”).
A morte também pode ser vida, desde que possamos ver no desabrochar lento da rosa ou da borboleta dentro dos seus casulos que ambas se interagem por toda uma vida em toques quase silentes, numa simbiose única e eterna. Ambas sabem o quanto carecem uma da outra – e para isso vivem: perpetuando uma à outra -. A borboleta e a rosa, em curtos instantes de vida para nós, têm para si uma longa existência, o espaço necessário para eternizar o que lhes foi emprestado pela criação: a existência no universo. Quando uma criança se vai transformada pela morte – que denominamos de morte natural, aquela provocada pela inevitabilidade das doenças -, levando seus alvoroços, seus sorrisos e sonhos ainda inconscientes, embora nos pareça uma prematura viagem, uma antecipação do existir, nada mais é do que o arranjo da própria existência (existir dentro de um tempo, pois que o tempo não é tempo para o “existir”, é espaço e é determinado pelas leis naturais que não podemos segurar). Então, choremos, sim, nossos filhos e filhas (nossas crianças ainda inocentes) que nos são levadas para o seio da terra, entendendo que a terra precisa de nós, tal como necessitamos dela para existir. Choremos, sim, pois o choro rega a terra e lava a alma. O choro é prova de dor, é prova de amor. No entanto, deixemos que a terra cumpra o seu papel, olhando a chuva, sempre que ela vier, regando as plantas para que a rosa e a borboleta cumpram o seu destino eterno de existir – e nós, como anjos que sonhamos um dia, cumpramos essa viagem infinita rumo, sempre, ao desconhecido.
Texto de Pedro Paullo Oliveira. Imagem Ateliê Gina
Fonte: http://redatornacional.blogspot.com.br/2014/01/para-pequena-maria-eduarda-nao-ha-morte.html?spref=tw
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