Manifestações vão obrigar governo à autocrítica

Dimensão dos protestos derruba argumentos de elitismo e terceiro turno eleitoral

GUILHERME EVELIN
Os manifestantes tomam conta da Avenida Paulista (Foto: Sebastião Moreira/EFE)
Os manifestantes tomam conta da Avenida Paulista (Foto: Sebastião Moreira/EFE)

O tamanho das manifestações de rua surpreendeu o Palácio do Planalto, e o governo Dilma Rousseff vai ser obrigado, de alguma forma, a fazer o que nenhum político gosta de fazer: autocrítica. Isso se tornou quase inevitável depois que a multidão nas ruas, em diferentes Estados, derrubou os dois argumentos que vinham sendo brandidos pelos governistas e pelo PT para desqualificar as manifestações contra o Planalto.

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O primeiro argumento era que as manifestações estavam sendo organizadas pelas pessoas mais abastadas, empresários, integrantes das classe média, ressentidos por terem de dividir o espaço de aeroportos e de outros ambientes com os pobres que ascenderam socialmente nos governos do PT. Obviamente, esse tipo de conversa se torna insustentável quando mais de 1 milhão de pessoas, segundo a Polícia Militar de São Paulo, ocupa a Avenida Paulista para protestar contra o governo.

O segundo argumento era que os protestos seriam alimentados pela oposição, inconformada com a quarta derrota seguida do PSDB para o PT numa eleição presidencial. Eles seriam parte de um “terceiro turno eleitoral” fomentado pelos tucanos. Enfim, golpismo de gente que não aprendeu a respeitar as regras do jogo democrático. Esse raciocínio cai por terra quando se vê que os tucanos ficaram à margem do movimento, meio atarantados sem saber se iam ou não iam às manifestações.

>> Alberto Bombig: Protestos escancaram desgaste do PT

Como essas alegações esboroaram, o  governo e o PT vão ser obrigados a sair da “mesmice”, como diz o cientista político Marco Aurélio Nogueira, para sair do corner e não agravar a crise. Parte desse movimento foi iniciado na entrevista dada pelos ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da secretaria-geral da Presidência, Miguel Rossetto.  Foi uma entrevista em que eles abandonaram o tom do confronto, qualificaram as manifestações como “democráticas” , apelaram para o diálogo com a sociedade e as forças políticas e tentaram explorar “convergências” , por exemplo, em torno de uma possível  reforma política.

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Na sua primeira reação, o tom  do governo foi mais humilde. A pergunta que fica no ar é a seguinte: isso será suficiente?

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