Por Antonio Carlos Ribeiro de Oliveira
Apesar dos louváveis esforços, engana-se quem pensa que os traficantes não dominam seus territórios no Rio de Janeiro. Sempre houve um vasto controle, que até um míope poderia perceber. As operações de venda de drogas nas comunidades nunca pararam, estando a pleno vapor, e movimentam milhões de reais, sustentadas por um mercado consumidor pulsante que prolifera a cada dia em várias camadas da sociedade.
O tráfico de drogas é a atividade-fim das quadrilhas devido à alta lucratividade que o negócio imundo proporciona, e dele derivam as demais modalidades criminosas que atormentam as estatísticas da violência, como os roubos. Para manterem fortalecidos seus domínios e se protegerem precisam de armas, de baixo e grosso calibres, cuja entrada no país não se consegue obstaculizar. Temos, assim, o porquê de tantas apreendidas pela polícia e a existência de outras tantas em poder dos traficantes.
Equivocou-se, outrossim, quem imaginou que o projeto da UPPs obteria a rendição dos traficantes, com a implantação de uma nova ordem. O verbo adequado à realidade talvez fosse o “espalhar”. Quando foi iniciado esse bom projeto, que falhou nos ajustes, cuja idéia central seria a retomada dos terrenos ocupados pelo tráfico, com o indispensável apoio das Forças Armadas, acreditaram que, uma vez conquistados os territórios, o tráfico iria enfraquecer, os marginais mudariam seus conceitos e o policiamento ostensivo circularia com tranquilidade.
Ocorre que, da ilusória bem sucedida etapa de ocupação, revela-se que somente serviu para afugentar os covardes bandidos e selar uma sensação de paz superficial nas comunidades e nas ruas, pois o problema maior ainda não tinha sido resolvido. Esqueceram-se de conjugar a demonstração de força com outra medida importante que era a investigação policial, visando a prisão e condenação dos traficantes, e, principalmente, descobrir onde escondiam as armas e para onde era levado o dinheiro obtido com a atividade criminosa, que, certamente, se encontrava guardado ou transformado em algum patrimônio de aparência legal.
Com a saída física – não de fato-, por uns instantes, dos bandidos das comunidades por eles controladas, ou mesmo, com a prisão de alguns poucos e até certos líderes, o que se observa é que fizeram uma retirada estratégica, se reorganizaram, e retornaram com muito mais vigor, ampliando seus portfólios de negócio sujos, até em lugares antes desconhecidos de suas ações.
A maioria desses traficantes nasceu na própria comunidade ou nela moram, conhecem as pessoas e os relevos que formam seus quartéis-generais, o que dificulta a ação da polícia. O tráfico, para eles, funciona como um modo de vida, de obtenção de ascensão e prestígio social, muitos dos quais sequer ligam para o risco de morte e exalam seus mais perversos instintos animalescos.
Se enquadram num grupo que convive, naturalmente, com a pobreza, o desalinho familiar, o abandono do poder público, e até com a prisão, que chega a engrossar seus currículos na organização a que pertencem. Assim, serve o ambiente como força atrativa de cooptação para fabricar um exército de bandidos do tráfico, que os fazem cegar para a baixa expectativa de vida, cujo dinheirinho, por vezes, sequer dá para pagar um enterro digno.
A polícia sempre poderá trabalhar melhor para reduzir os índices de violência e ajudar no processo de pacificação social, desde que conte com a estrutura adequada, recursos, e participação da sociedade. Todavia, deveria ser o último remédio dado a um paciente doente, e não o primeiro. Com a execução de uma ação policial, podem acreditar, falharam a prevenção ao crime, a educação, a saúde, a habitação, o saneamento básico, o emprego, e a dignidade da pessoa humana.
Fonte da publicação https://www.facebook.com/jornalostaacro/posts/882384451902321
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